Daijiro Matsuda, imigrante japonês, tinha vindo ao Brasil em 1928, com o sonho de fazer fortuna nas plantações de café. Logo adquiriu terras na zona rural de Duartina, interior de São Paulo, e ali começou o plantio de café trabalhando duro de sol a sol. Essa dura rotina, de trabalhos pesados não trazia nenhuma esperança, a não ser a de ficar rico o mais rápido possível.
Miyoshi Matsuda chegou ao Brasil em 1931, também como imigrante japonês, a fim de se encontrar com o irmão Daijiro, que precisava de ajuda na lavoura. Seu sonho, assim como o de muitos imigrantes, era um dia voltar ao Japão e poder ajudar seus pais. Na lavoura, durante três anos, a dura realidade angustiou aquele jovem inquieto que desejava ardentemente realizar algo grandioso e ajudar muitas pessoas, mas não sabia como.
A vida parecia uma interminável sucessão de dias de trabalho extremamente cansativo. Mas um livro mudou o destino desses dois jovens, e a missão reservada a eles por Deus começou a se manifestar.
Todos nós temos aqueles objetivos de vida que os fazem levantar todas as manhãs. Carregamos o nosso propósito de vida em nosso interior e é essencial descobri-lo, torná-lo nossa motivação e carregá-lo como bandeira. Assim, conseguiremos enfrentar qualquer dificuldade. Esse é um dos princípios básicos para o nosso bem-viver: encontrar um significado para a nossa própria vida. Mas para que se tenha a visão correta desse propósito de vida, devemos conhecer a nossa verdadeira natureza espiritual. Enquanto não se tem essa visão correta de quem nós somos, podemos buscar os propósitos errados. Mas Deus é maravilhoso, e mesmo pelos motivos errados, podemos encontrar o caminho e corrigir o nosso destino.
No caso dos irmãos Matsuda, tudo começou pela busca da realização de um sonho, que era ficar rico ganhando muito dinheiro nas plantações de café no longínquo Brasil.
O que fazia Daijiro Matsuda desejar tanto ganhar dinheiro era uma humilhação pela qual passara o seu pai, Tokumatsu Matsuda. Todos os seus bens estavam hipotecados e, certa vez ele foi pedir um empréstimo a um senhor rico da região, mas este respondeu: “Eu tenho dinheiro, mas não para emprestar a vocês”. Daijiro ficou furioso e jurou vingar-se um dia, tornando-se rico também.
Assim Daijiro Matsuda partiu para o Brasil no final do ano de 1927, no navio Hakata-maru, levando a mulher Chiyono Matsuda e uma das irmãs, porque era preciso, no mínimo três membros adultos de cada família. Assim, chegaram ao Brasil no inicio do ano de 1928.
O jovem Miyoshi Matsuda, como não se simpatizava muito com o seu irmão Daijiro, ficou no Japão para continuar os estudos e ajudar seu pai. Ingressou em uma Associação dos Jovens da aldeia realizando várias atividades, e viveu assim, segundo ele próprio, perdido numa vida sem propósitos durante três anos.
Muitos dos nossos problemas psicológicos podem ser enfrentados com a busca desse propósito – a razão da nossa existência, e buscar a nossa verdadeira missão que, às vezes, está escondida, reprimida e até silenciada dentro de nós. Ela nos ajuda a recuperar o ânimo, a vontade, a motivação para viver melhor.
E foi pensando em encontrar um propósito de vida, uma razão para continuar vivendo, que Miyoshi, ao receber uma carta de seu irmão Daijiro pedindo que viesse ajudá-lo na lavoura de café, resolveu partir para o Brasil.
Tomou o trem rumo à cidade de Kôbe, permanecendo uma semana no abrigo para emigrantes que ficava num bairro residencial daquela cidade, para exame médico e outras formalidades necessárias à viagem.
No dia 27 de setembro de 1931, ele embarcou no navio Santos-Maru juntamente com mais de 700 emigrantes rumo a uma viagem que mudaria para sempre a sua vida. Após 43 dias de viagem, no dia 10 de novembro de 1931 chegou ao Rio de Janeiro e em poucos dias atracou no cais de Santos – SP, e sentiu grande emoção ao ver pessoas acenando com a bandeira japonesa, uma cena familiar da sua pátria, aqui e ali no cais. Sentiu grande emoção ao vislumbrar a bandeira de sua pátria tremulando em solo estrangeiro. No meio de tantos japoneses, estava o seu irmão Daijiro aguardando e acenando, e juntos seguiram para a fazenda, localizada em Ribeirão Bonito, a 34 quilômetros de Duartina, no interior de São Paulo.
Anos mais tarde, o Prof. Miyoshi Matsuda soube que algo especial, estava ocorrendo no mesmo dia em que o navio Santos-Maru zarpou para o Brasil, que depois viria a fazer parte de sua vida para sempre. Foi no mesmo dia – 27 de setembro de 1931 – que o Sagrado Mestre Masaharu Taniguchi recebeu a Revelação Divina da Grande Harmonia, na vila Sumiyoshi, também em Kôbe – Japão, o que o fez pensar na existência de alguma mão divina invisível a guiá-lo em direção ao seu destino.
A Vida na fazenda era bastante árdua. Daijiro Matsuda veio com um contrato de trabalho de quatro anos. Somente depois disso poderia comprar uma fazenda própria ou passar a trabalhar como arrendatário. Mas, apesar de o cafezal crescer lindo, a geada o dizimou, e acabou prorrogando o contrato para 6 anos. Ao chegar na fazenda, o jovem Miyoshi logo começou a enfrentar a dura rotina da lavoura. Nos dois ou três primeiros meses, os dias passaram rapidamente porque tudo era novidade; porém, com o tempo, a monotonia tornou-se insuportável e ele não conseguia se contentar apenas com a meta de ganhar dinheiro, adquirir terras, formar uma bela fazenda de gado, comprar um automóvel e casar-se com uma linda moça. Começou a refletir sobre sua vida. Trabalhar era bom, mas trabalhar por dinheiro seria tudo na vida?
Está certo que não se vive sem dinheiro, contudo, não poderia existir outro ideal na vida além do dinheiro? Não haveria uma maneira de viver que proporcionasse satisfação profunda no coração? Assim ele se perguntava. No seu íntimo, ele ansiava, desesperadamente se tornar alguém que pudesse proporcionar alegria às pessoas.
Não queria terminar a vida naquela fazenda. Mas não podia voltar para o Japão nem ir a São Paulo tentar a vida. Seu sonho dourado cheio de esperança não passara de fantasia. O jovem Miyoshi assim pensava: “Estaria eu destinado a morrer como um simples lavrador?” A frustração e a solidão deixavam-no desesperado.
“Queria estudar! Tornar-se alguém capaz de proporcionar satisfação às pessoas! Quando esse desejo iria se realizar? Seria seu destino lidar eternamente com a terra? E que recompensa irrisória obtínhamos com nosso árduo trabalho!” Aos poucos, Miyoshi foi deixando de sorrir e se tornando um jovem calado.
Certa noite de sábado do mês de setembro 1934, em uma das visitas à casa de um vizinho, como de costume, o anfitrião, Sr Kumejiro Oshiro, disse o seguinte ao jovem Miyoshi: – Sr Matsuda, atualmente está em voga no Japão uma nova religião. Chama-se “Seicho-No-Ie” e ensina que o homem é filho de Deus, filho de Buda.
Ele mostrou-me um livro com capa de couro e letras douradas, e o apresentou: Um amigo chamado Tiba, que é membro da Associação Hotoku de Shizuoka, à qual pertenço, mandou-me este livro. Ainda não li tudo, mas o senhor não gostaria de levá-lo para ler?
O título do livro era “A Verdade da Vida”. Peguei-o e folheei algumas páginas.
Na verdade, ele jamais havia pensado profundamente sobre a verdadeira natureza do homem, até então. Para ele o corpo físico era o próprio homem, não havia dúvida. Havia corpo doente, corpo sofredor, corpo perfeito, corpo respeitável, corpo belicoso. E assim, dizia: “Eu mesmo era um corpo angustiado, indesejável a mim mesmo. “Como é que o homem, apresentando tais corpos, pode ser filho de Deus” se isso fosse verdade, não haveria tantos sofrimentos na vida, tantas desavenças familiares, tantas guerras, e o mundo seria maravilhoso. Nosso sofrimento todo advém, precisamente, por não sermos filhos de Deus. Que estranha religião é esse que prega tal incoerência?”
Apesar destas dúvidas, o pesado livro de capa preta e letras douradas tinha um ar solene e ao mesmo tempo atraente, que não havia como resistir à sua leitura. No final do livro notou que havia algumas poesias e, como gostava de versos, agradeceu ao sr. Oshiro e levou-o emprestado para casa.
No dia seguinte, deixou o livro sobre a mesa e foi trabalhar na lavoura.
Mais tarde quando Miyoshi voltou para casa, percebeu que o livro já não se encontrava sobre a mesa, e viu seu irmão, que ficara acamado, vítima de disenteria amebiana, em pé. Miyoshi percebeu que seu estado melhorara.
Na hora do jantar, o irmão Daijiro apareceu de repente com o livro “A Verdade da Vida” na mão e, profundamente emocionado, disse: “Miyoshi! Miyoshi!” Você precisa ler este livro. Este livro é realmente maravilhoso. Ele diz que o homem é filho de Deus, a doença não existe! Lendo-a por dez páginas meu estado físico melhorou, e continuei lendo, lendo o dia inteiro, e agora estou completamente curado. Não sinto mais nada! A doença não existe. O homem é filho de Deus! Estou curado!” E o Miyoshi muito surpreso, sem poder contestar, estava presenciando um milagre acontecer bem na sua frente.
Lendo A Verdade da Vida, Daijiro compreendeu que a disenteria era projeção da sua própria mente vingativa, pois o homem é a própria vida de Deus, sem doença e sem defeito! Enquanto não despertasse para esta Verdade, estava destinado a sofrer, debatendo-se na ilusão. Ao refletir sobre este ensinamento, Daijiro percebeu que aquele rico tão odiado foi quem lhe deu oportunidade para conhecer a Verdade. Foi ele que provocou o desejo de vingança, que, por sua vez, deu origem à doença, a qual lhe propiciou a chance de ler e conhecer estes extraordinários ensinamentos! Assim Daijiro sentiu, então, desejo de perdoá-lo e até de agradecer-lhe, e foi nesse instante que a dor e a doença desapareceu.
Depois de presenciar esse fato totalmente inexplicável pelo senso comum, Miyoshi começou também a ler o livro milagroso que curara seu irmão. Logo no início, deparou com as Revelações divinas do “Acendedor dos Sete Candeeiros”. Ficou surpreso com a afirmação: “Mesmo que agradeças a Deus, se não consegues, porém, agradecer a teus pais, não estás em conformidade com a vontade de Deus”. E continuou lendo:
“Uma vez que a vida está manifestada no Universo, aí existe caminho, existe lei. Este caminho, justamente, é o caminho de viver da Seicho-No-Ie. Caminho é palavra (vibração vital) que preenche o Universo, o princípio criador onipotente da Grande Vida, e por isso não se choca com nenhuma religião e, mais que isso, é o princípio da Vida que todas as pessoas, seja qual for sua religião, precisam seguir”. E assim o jovem Miyoshi continuava a leitura, sentindo espanto atrás de espanto.
Aprendemos na Seicho-No-Ie que cada espanto equivale ao despertar da Natureza Divina. No livro A Verdade da Vida, v.29, p.14, está escrito que a capacidade de sentir espanto e admiração é um dos “tesouros espirituais” mais valiosos.
O livro explicava que ao compreendermos que a saúde, a paz, a provisão das necessidades, o progresso da pessoa e da família e da sociedade somente surgem quando a força criadora da vida se manifesta plenamente, e o que impede a plena manifestação da força criadora da Vida é a ilusão, que vem do desconhecimento da infinita capacidade do homem, de que ele é portador da Vida de Deus e que sua natureza é essencialmente espiritual. A ilusão que distorce a direção das ondas vibratórias da atividade criadora da Vida, obstruindo a sua plena manifestação. E o livro A Verdade da Vida ensinava claramente que “o homem é Vida”.
E foi assim que o Miyoshi, com a leitura desse livro, encontrou o seu propósito de vida. À medida que ele vivia angustiado com a vida, com a situação e as circunstâncias, a única coisa que encontrava era uma “rasteira” após a outra. A própria situação pode nos derrubar, mas cabe a nós decidirmos se vamos nos levantar ou não.
Uma imensa alegria interior tomou conta dele, que há muito acalentava o desejo de se tornar útil à sociedade. O jovem Miyoshi não conseguia seguir em frente porque estava resignado com seu destino, certo de que as circunstâncias e o ambiente eram inadequados para a concretização de seus sonhos.
Assim o jovem Miyoshi Matsuda expressa seu sentimento ao continuar a ler o livro: “O livro ensinava que eu estava vivo e que minha vida não era o corpo carnal e sim VIDA. E a vida tem como lei de manifestação o crescimento infinito. O que obstruía meu crescimento não era o péssimo ambiente; era eu mesmo! Era meu eu perdido na ilusão de ser apenas um corpo material, sem suspeitar da minha natureza espiritual, infinitamente capaz e perfeita sob todos os ângulos. Todo o meu sofrimento provinha da minha própria ignorância! Eu é que vinha impedindo que se manifestasse a minha capacidade e sofria desesperadamente. Poderia haver estupidez maior?”
Ele fechou os olhos e refletiu: “Então, eu sou Vida!”. E assim foi percebendo que ao respirar o ar e expelir o gás carbônico, esse processo purifica a circulação do sangue, e todo os órgãos do seu corpo continuava funcionando mesmo quando estava dormindo, mantendo a saúde, que é um mistério. E ao mesmo tempo contribui com o ciclo da natureza em que as arvores e plantas absorve o gás carbônico e libera o oxigênio. E quem faz isso não é o homem. E chegou a conclusão que sua vida e a do Universo constituíam uma só Vida! E pela primeira vez sentiu uma profunda alegria encher a sua alma e seu horizonte do futuro se abrirem, criando assim, novas perspectivas de possibilidades e um novo entusiasmo de alegria brotar do seu interior.
E assim, com o profundo despertar causado pela leitura daquele maravilhoso livro, emocionados e felizes, os irmãos Matsuda tomaram a decisão de dedicar a vida toda ao Movimento da Seicho-No-Ie, e primeiramente o Sr. Daijiro Matsuda deu início com todo vigor à divulgação do ensinamento. Curas milagrosas sucederam-se com as orientações dadas por ele, que depois de ter vencido a doença, começou a divulgar o ensinamento a todos os que se apresentavam à sua frente. Fazia orações e com isso foram acontecendo muitos casos milagrosos que o tornaram conhecido como “Curador Japonês”.
Bibliografia
MATSUDA, Miyoshi – Uma vida dedicada à pregação da Verdade. 1ª edição – 1988.