Ut quant laxis

Resonare fibris

Mira gestorum

Famuli tuorum

Solve polluti

Labii reatum

Sancte Iohannes”.[1]

Esse é o hino em louvor a  São João Batista em Latim. Repararam nas letras destacadas? Ut, Re, Mi, Fa, Sol, La, SI. Exato, os nomes das notas musicais vieram deste hino (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si). A igreja católica foi uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento da música e da arte. A humanidade, e suas diversas sociedades, sempre souberam da íntima ligação entre a arte e a espiritualidade. E isso desde os primórdios. Vejam o que Sócrates diz sobre a arte, em 460 a.c.: 

Eu percebo, Ion; e vou proceder para vos explicar o que imagino ser a razão disto. O dom que possuis de falar excelentemente sobre Homero não é uma arte, mas, como dizia há pouco, uma inspiração; há uma divindade que vos move[…] Para todos os bons poetas, tanto épicos como líricos, compõem seus belos poemas não pela arte, mas porque são inspirados e possuídos. (PLATÃO. Ion. Edição digital do Kindle) 

A arte, quando perfeita, nasce sob inspiração. Um artista, no ato de exprimir sua arte, depois de muito esforço e estudo, horas e horas de dedicação e aperfeiçoamento de sua técnica, o fará sob inspiração. Inspirado, mas não no grau de inspiração de um médium, acima disso. Uma inspiração direta, conectado com Deus.

Mas por que isso acontece?

No capítulo O que é “Verdadeiro Valor”, do v. 13 da coleção A Verdade da Vida, o Mestre Masaharu Taniguchi nos ensina que o “Ideal” não é vago. Ele é, assim como o belo, transcendente. O ideal e o belo existem desde o princípio. Assim como o “Verbo”. Possuem valor eterno.

O tempo é um bom parâmetro neste sentido. Toda arte que sobrevive ao longo do tempo, se torna um clássico. Clássicos existem, pois expressam a verdade, o bem e o belo independentemente das circunstâncias. Sempre contribuindo para elevação da alma. Essa inspiração só é possível pois a verdade, o bem e o belo estão latentes no ser humano. Só nós conseguimos perceber, em tudo, e expressar, para todos, essa tríade.

No mesmo capítulo, o Mestre nos explica  que o valor não está na forma. Uma obra é maravilhosa, mas não pela sua forma e sim porque expressa “aquilo que existe realmente”: o Valor Eterno. A forma importa, pelo que ela expressa. A verdade não é subjetiva. Ela é. Podemos expressar desleixo, ego, gula… sabemos o que não eleva a alma. A forma importa, enquanto expressa a verdade. E só é verdadeiro aquilo que eleva.

Nossa autenticidade se manifesta quando expressamos a Deus. O Valor Eterno é Deus. Por isso que o verdadeiro significado da arte é espiritual. Somos muitos e somos únicos. Somos expressão da infinitude de Deus. Do Valor Eterno. Assim como arte, o verdadeiro sentido e significado de nossa vida é espiritual.

[1]https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/a-origem-das-notas-musicais.htm Acesso em 04 de abril de 2022