O aquecimento global vem sendo acelerado pelas atividades humanas e traz consigo diversas questões éticas. A primeira diz respeito a promoção e conservação da biodiversidade, que e altamente valorizada pela Seicho-No-Ie, conforme podemos depreender do seguinte excerto do “Canto em Louvor a Natureza”:

 

O Anjo cantou em louvor ao mundo da natureza: “Embora Deus seja existência única, Ele criou a natureza infinitamente abundante, diversa e variada. A natureza sobre a Terra reflete nitidamente O estado em que um e o todo e o todo e um, revelando assim os infinitos aspectos de Deus”*.

 

Entende-se, portanto, que a Terra e o palco de expressão para a manifestação das infinitas espécies criadas por Deus. Eticamente cabe ao ser humano cuidar para que este palco apresente as condições adequadas para que isso ocorra, bem ao contrario do que vimos fazendo. Na busca exclusiva do nosso conforto e de nossas conveniências, temos apenas aumentado a lista das espécies em perigo de extinção.

 

De outra parte, o nosso padrão de consumo pode estar comprometendo irremediavelmente a qualidade de vida das gerações que nos sucederão. A civilização do desperdício que hoje vivemos pode dificultar bastante o preenchimento das necessidades das gerações posteriores. E necessário constituir – e viver – uma ética entre gerações.

 

As atividades humanas que acarretaram essa situação são as seguintes: 1) geração de energia; 2) processos industriais; 3) agricultura; 4) geração de resíduos; 5) desmatamento; 6) transportes (uso de combustíveis fosseis). Cada um desses itens merece ser analisado com atenção  pois encerra oportunidades de mudança rumo a uma nova civilização, pautada por uma visão mais espiritualista da vida e menos antropocêntrica.

 

Essa analise deve levar em conta também as características do aquecimento global, que são:

 

Larga escala. E um problema que atinge a todos, sem exceção. Assim sendo, não se pode mais pensar exclusivamente em termos de soluções individuais.

 

Cumulatividade. O aumento da temperatura no planeta e fruto da emissão acumulada de gases do efeito estufa, que modifica as condições climáticas.  Em outras palavras, necessitamos mudar os hábitos que controlam as nossas atividades diárias.

 

Irretroatividade. A influencia humana no clima e clara e crescente. Perdas definitivas de espécies da fauna e da flora ja ocorreram. Mantida essa tendência, aumentamos perigosamente a probabilidade de acontecerem graves e irreversíveis impactos na sociedade humana e nos ecossistemas, por conta das mudanças climáticas. Urge a adoção de fortes e variadas medidas mitigatórias.

 

E nesse contexto que teceremos algumas considerações sobre o consumo de carne. Quais são os impactos de manter esse habito que contribui para a emissão de gases do efeito estufa, como também afeta a biodiversidade?

 

Apresentamos a seguir uma tabela com a descrição desses gases, bem como o respectivo potencial de aquecimento global*:




Gás causador de efeito estufa

Potencial de aquecimento global

CO2 (dioxido de carbono)

1

CH4 (metano)

21

N2O (oxido nitroso)

310

HFCs (hidrofluorcarbonos)

140 ~ 11.700

PFCs (perfluorcarbonos)

6.500 ~ 9.200

SF6 (gexafluoreto deenxofre)

23.900

 

De acordo com a Fapesp, estima-se que 70% das emissões de metano provenham de atividades humanas, entre as quais a pecuária. E o metano entérico (CH4), produzido na digestão dos ruminantes e eliminado por eructação (arroto)**. Pela tabela acima percebemos quanto esse gás – ainda que não seja o mais abundante dos gases do efeito estufa – e impactante no aquecimento global, pois tem um potencial 21 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2). Ou seja, 1 quilo de metano causa o mesmo efeito que 21 quilos de CO2.

 

A pecuária ainda e um dos vetores de desmatamento da floresta tropical. Segundo o biólogo Edward O. Wilson, o impacto dessa ação na biodiversidade e notório:

 

Ha um contraste espantoso entre a floresta tropical e o habitat ao seu redor, onde a floresta foi derrubada pelo homem para da lugar ao desenvolvimento humano. No Jari, estado de Rondônia, na região Norte do Brasil, os entomologistas já registraram, em alguns poucos quilômetros quadrados, 1.600 tipos de borboleta. Em pastagens próximas de uma área similar, onde a floresta foi transformada em pasto pela derrubada de arvores e pelas queimadas, pode haver (não sei o numero exato, mas já examinei lugares semelhantes) talvez cinquenta espécies, e mais um numero indeterminado que vaga pelos terrenos inóspitos, passando de um fragmento de floresta para outro. Essa mesma desproporção se aplica quando se fala em mamíferos, aves, sapos, aranhas, formigas, besouros, fungos e outros organismos – inclusive, no mais alto grau, nos milhares de espécies de arvores e incontáveis seres vivos que residem nas copas*.

 

Isso sem falar que as queimadas e a decomposição da matéria orgânica resultante são as atividades humanas que mais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa no Brasil.

 

Podemos então concluir que uma pequena mudança no habito alimentar, abstendo-se de comer carne ou diminuindo a quantidade consumida, pode evitar o agravamento no acumulo de gases de efeito estufa, bem como proteger a biodiversidade.



* TANIGUCHI, Masanobu. CANTO EM LOUVOR A NATUREZA. 2a impressao. Yamanashi, Japao: SEICHO-NO-IE, 2015, pp. 14-15.

 

* Capturado no site http://www.mma.gov.br/comunicacao/item/195-efeito-estufa-e–aquecimento-global, no dia 9/4/2016 as 20h20.

 

** Capturado no site http://agencia.fapesp.br/pesquisa_avalia_emissao_de_metano_por_bovinos/20673/ no dia9/4/2016 as 20h45

 

Autor (a): Comissão da Seção (Carlos Alberto da Silva, Marcos Rogério Silvestre Vaz Pinto, Milton Kazuo Norimatsu, Henrique Tsutomu Kubo e Flávio Gottardo de Oliveira)

Revista Fonte de Luz – Ano LII – Nº558 – Julho/2016 – pp. 26 – 28